terça-feira, 22 de julho de 2008

POR QUE É TÃO DIFÍCIL MUDAR?


José Fabiano Ferraz - Psicólogo - 12 39136519
Observo esta dificuldade no consultório clínico, nas empresas com o trabalho em comportamento organizacional, como professor universitário na relação com os alunos, nos grupos de recuperação em compulsividade e dependência química e na minha vida de um modo geral. Mesmo quando queremos mudar, quando adquirimos a maturidade de consciência da mudança, mesmo assim, mudar é uma tarefa das mais difíceis que encontramos em nossa vida. Observo que acabamos sendo atropelados pelas mudanças, e nos sentimos despreparados para lidar com o diferente que a mudança ocasiona em nossa vida. Foi sentindo no próprio corpo, que descobri primeiro que existe um processo de mudança, ou seja, ela não acontece de uma hora para outra como desejamos. Sabe aquelas mudanças que idealizamos no final de semana para começar na segunda feira, ou as imaginadas durante as férias para iniciarmos assim que voltarmos elas dificilmente acontecem de verdade, pois o processo de mudança não começa com o novo pronto para ser praticado. Descobri também, em minha caminhada de mudanças, que não se trata de força de vontade, ou de estado de espírito como muitos entendem. E sim de uma maturidade em conhecer como o processo de mudança ocorre em mim, como reajo ás situações em minha vida que suscitam a mudança. Outra coisa importante é que não podemos viver a vida sem mudar. Algumas pessoas me perguntam no consultório: mas por que eu preciso mudar? Porque as pessoas ao seu redor estão mudando, porque o seu corpo esta mudando, porque a política, a tecnologia, a sociedade e tantas outras coisas que afetam a sua vida diretamente estão mudando. Não mudamos por capricho ou por modismo, mudamos por necessidade inerente ao processo de existir num mundo em constante mutação. Em minha atividade pude constatar três situações que compõe o processo de mudança, vou tentar passar para vocês estas situações da maneira mais prática possível, pois fazem parte da minha vivência.
A primeira coisa é entender que a mudança começa pelo fim, isso mesmo, e não pelo início e pelo novo. Quando pensamos em mudança, imaginamos o novo comportamento ou a nova atitude que queremos ter diante da vida. Mas precisamos entender que antes que o novo ocorra, devemos viver a separação, o afastamento daquilo que queremos deixar em nossa vida. Então antes de experimentar o novo precisamos aprender a lidar com o fim. Isso por si só é um processo, que possui etapas, dificuldades e precisa de tempo. O fim traz a tristeza, a incerteza, o medo e a angústia. Por mais estranho que possa parecer estamos apegados ao que desejamos mudar em nossa vida e em nossa identidade. Precisamos finalizar algo que nos acompanha durante muitos anos, precisamos aprender a criar distância do que não queremos mais, interromper o padrão que faz parte do ritual automático de nosso comportamento. Deixar que o fim aconteça naturalmente. O tempo pode ser nosso aliado se entendemos que precisamos dele, pois a cobrança por resultados imediatos, traz culpa e muitas vezes retrocedemos e desistimos da mudança. Se conseguirmos finalizar, entramos em outra situação e começamos a sentir um vazio, uma agitação e um incômodo pelo espaço que o fim gerou em nós. Ficamos excitados e ansiosos, pois estamos entre uma coisa e outra, estamos encerrando um comportamento, mas não temos nada novo para colocar no lugar. Precisamos aprender a conviver com a pausa, com a espera, com o indeterminado, com a confusão que se estabelece ao desestruturar um modo de ser no mundo. Por outro lado é uma etapa de criação, estamos com a sensação de liberdade e podemos nos arriscar a novas conexões em nossa vida. Por último vem a etapa em que o novo começa a ganhar forma, em que uma nova ordem começa a se estabelecer em nosso universo de relações. Começamos a ver as situações de outra forma, de outros ângulos e diferentes sentimentos aparecem. Esta é a etapa em que vamos experimentar, vamos testar e praticar o novo que começa a existir em nós. Temos que aprender a nos ver de maneira diferente, e sentir que o velho morre, para que o novo aconteça. Com sucesso ou não vivemos nossas transformações, podemos tomá-las em nossas mãos e perceber que podemos nos modificar a partir do gerenciamento de nossa vida, de criar novas formas de ser no mundo, mudar nossa personalidade e não ficarmos agarrados a idéia de sermos sempre a mesma pessoa, a vida inteira.

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