segunda-feira, 6 de abril de 2009

O STRESS DA PERDA


José Fabiano Ferraz
Algumas pessoas me perguntam como fazer para viver sem stress. É claro que não sei a resposta de como a pessoa deve fazer para viver sem stress. Mas existem alguns conhecimentos da psicologia que facilitam entender alguns comportamentos. Isso não quer dizer que resolve o problema, ou que tem uma fórmula para resolver o problema. O que a psicologia pode fazer e, procura fazer é entender cada vez mais o existir humano. O conjunto, o todo, a vida que nos preenche. Assim podemos ter algumas pistas de como estamos lidando com as nossas vidas. Quando passamos por momentos de perda: uma pessoa querida, um amigo ou parente; quando perdemos a ocupação, o sustento aquilo que nos dá a garantia da vida. Hoje nossa vida é cada vez mais cara. Sentimos ameaçada nossa sobrevivência.
Então vejamos o que a psicologia pode nos ajudar a entender na situação de perda. Vamos analisar o fenômeno. Todas as situações que ameaçam nossa sobrevivência acionam automaticamente um sinal de alerta em nosso cérebro. Toca uma sirene lá em cima no cérebro, avisando que a sobrevivência do corpo esta ameaçada e todo nosso ser esta em alarme. Uma coisa em especial nos importa aqui: é o reflexo do corpo com comportamentos enfrentativos do stress. Primeiro a agressividade. Claro nosso corpo esta mobilizado para caça, para o ataque. Correr, energia nas pernas, sabe aquela impaciência nas pernas. O seu corpo esta dizendo para você que ele quer correr e caçar. O coração pode disparar mais sangue para os músculos. Imagina você ter que caçar o seu próprio alimento, ter que enfrentar o seu inimigo no braço. Precisarão de força nos músculos, rígidos para bater, socar, agredir. Como o contexto não permite que você faça dessa maneira física. Então você prende em si mesmo todos os gestos naturais de caçar e de lutar. Dores passam ser a conseqüência. O corpo sempre procura uma solução. O segundo tipo de comportamento trata-se de conter para dar o bote. O corpo em sua sabedoria natural e instintiva aumenta a pressão interna e contém – contrai -, para que a energia acumulada seja usada para dar o bote certeiro na presa. Como nossa selva é de pedra e nossa presa é mais subjetiva do qualquer outra coisa, surge o comportamento de guardar dentro de si e não dividir. Tem como conseqüência o aumento da pressão interna no corpo. Surge o medo de se sentir inadequada e inapropriada. Este tipo de comportamento leva a pessoa acreditar que esta sempre sendo avaliada, julgada e condenana. Em momentos de stress tende a se fechar. Vira uma panela de pressão. Um terceiro tipo colapsa totalmente, desmancha diante do stress. É uma reação de enfrentamento quando o inimigo é maior do que nós. O corpo desmancha e colapsa como um gesto de defesa. Aqui a questão não esta na agressividade ou na pressão, pelo contrário, esta na falta destas duas coisas. O que existe é um desânimo, uma falta de energia, um enfraquecimento interno. Tristeza, amargura e, às vezes, a culpa que derrubam a pessoa e a deixam sem força. Veja bem, é importante entender que todos os comportamentos de enfrentamento do stress, podem ser eficazes desde que no momento apropriado. Esta terceira forma se acompanhada das outras duas formas, a agressiva e a contida, esta no mais natural dos processos humanos. Recapitulando! Ficamos agressivos para buscar o alimento, caçar e nos defender do inimigo para nossa sobrevivência. Temos que conter nossas energias, guardar na pressão para explodir em gestos de ataque. Depois de conseguido a caça, o corpo desmancha e deixa descansar.
Acredito que assim você possa entender um pouco mais o que acontece quando está vivendo o stress dos momentos de perda. O corpo é o representante legítimo do que você sente. O que acontece em seu corpo tem um significado existencial. Procure descobrir o fenômeno, em sua vida, que esta abalando as fronteiras de seu corpo. Procure ajuda se precisar. Não é vergonha nenhuma solicitar ajuda de um profissional para lidar com o stress. Sabe por quê? Existem, cada vez mais, componentes subjetivos envolvidos em nossa luta pela sobrevivência. As questões da pós-modernidade são complexas e diversificadas.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

AS POSSIBILIDADES DA CRISE


José Fabiano Ferraz

A palavra crise é uma das mais pronunciadas ultimamente. Fala-se de crise em todos os veículos de comunicação e nos congressos, lêem-se sobre a crise nos livros, artigos científicos, em fim vemos de tudo um pouco na tentativa de apresentar possibilidades para superar a crise. E a pessoa em seu dia a dia passando pela crise sente o medo de não conseguir, de fracassar, de enlouquecer. Com isso ela vive a experiência da crise como fragilidade. O medo é de não refazer, a impossibilidade de reestruturar e reconfigurar a si mesmo. Surgem no pacote da crise o medo da perda, perda do emprego, perda do status, dos amigos, da família e, o mais desesperador, de si mesmo. Um sintoma desse medo da perda é a experiência recorrente nos dias de hoje, conhecida na psiquiatria como “síndrome do pânico”. Aparece quando a desestabilização é levada a tal ponto que ultrapassa o limiar da tolerância. A ansiedade atinge intensidades insuportáveis, devido à ameaça imaginária de descontrole das forças internas da própria pessoa. Promove um caos psíquico, social e orgânico. Com tudo isso a palavra crise, e a experiência da crise vêm associadas no imaginário das pessoas, a períodos desagradáveis, inesperados e que atrapalham e prejudicam o desenvolvimento natural e normal. Isso estabelece uma visão do crescimento como algo linear, ascendente e de preferência sem crise.
A Teoria do Caos promove o entendimento da complexidade na relação com a vida. Isto significa dizer que a realidade não é linear, muito menos binária estando além da paridade estabilidade/instabilidade. A vida passa a ser entendida como um sistema complexo, heterogêneo e distante do equilíbrio perpétuo e inabalável. Onde o caos e a crise fazem parte da ordem e do equilíbrio. Vamos entender a crise como necessária para evolução, seja de uma pessoa, de uma empresa, de uma instituição religiosa, educacional, etc. Se pensarmos nas empresas, já houve a crise da execução, onde surgiu a administração científica, a crise da informação com a melhoria dos veículos de comunicação, a crise do controle com a criação da burocracia e assim por diante. Uma análise histórica da humanidade irá revelar como cada crise trouxe um avanço para a própria humanidade. Hoje vivemos um mundo onde, cada vez mais, as pessoas precisam aprender a tomar para si a tarefa de organizar a própria vida, tomar para si a responsabilidade de sua sobrevivência. Passamos por uma crise mundial, é hora de aproveitar, isso mesmo aproveitar para descobrir as potências escondidas em cada um, e nas instituições. É o momento de aprender, de singularizar, ou seja, de desbravar outros territórios possíveis de sobrevivência, outras linguagens e outras estruturas. É preciso encontrara ferramentas para conviver com o desconforto da desestabilização natural, que compõem esse imenso fluxo de energia que é a vida. Está na hora de descobrir as possibilidades que a crise traz para sua vida.
Para as empresas nos tempos de crise a incerteza sobre o futuro e as dificuldades do presente torna-se o maior desafio. Para sobreviver à crise é preciso adotar estratégias de gestão. Estas estratégias referem-se a ter claro o caminho que, principalmente as lideranças devem seguir. Quando as lideranças estão perdidas com respeito ao caminho do negócio da empresa, dificilmente a equipe estará em sintonia com os objetivos. O clima da empresa em tempos de crise pode ser de um ambiente de hostilidade, insegurança, stress. Isso com certeza prejudica a qualidade e a produtividade dos negócios e interfere no comprometimento e na motivação das pessoas. Em tempos de crise a empresa precisa realizar uma análise detalhada das dificuldades de percurso, abrindo e colocando na mesa as dificuldades da empresa. A análise das dificuldades define as oportunidades de sobrevivência. São nestes momentos que a liderança torna-se veículo indispensável na promoção de valores que tragam a convergência, o comprometimento e a saúde da equipe. E toda crise oferece a possibilidade de rever os métodos e processos da empresa. Eficiência no controle de gastos, suporte logístico e a competente gestão dos recursos humanos.
E você, como pessoa, pode aproveitar as possibilidades que a crise oferece. Se você não possui uma maneira formal de planejar a sua vida, esta é à hora de aprender a fazê-lo. O planejamento de vida é uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e profissional. Ele colabora na organização dos aspectos de sua realidade que precisam ser planejados, desenvolvidos e alterados. Quem possui habilidade para definir seu projeto de vida, traçar planos de ação aliados a visão de futuro é, com certeza, agente de mudança da própria vida. É preciso estar atento ao cenário atual das mudanças no mundo, para organizar metas a curto, médio e longo prazo. O planejamento de vida envolve o marketing pessoal e profissional, é preciso reconhecer e trabalhar suas qualidades e características pessoais que te destacam dos demais.
A estabilidade seja no que for é impraticável para os dias de hoje. Estamos na era do preparo técnico e pessoal. As empresas precisam de pessoas que aprendam a investir em si mesma, que sejam independentes e autônomas. A pessoa deve se preparar a cada dia, a cada momento para lidar com a realidade aqui e agora. Quem tem um trabalho que não se acomode e, quem tem uma empresa que não se afaste do dia a dia do seu negócio, quem quer um futuro que cuide do seu presente. Se você perdeu seu emprego, este não é o fim, nem o início é apenas a realidade dos tempos que estamos vivendo. Você não é pior dos que ficaram na empresa, não leve isto para o plano pessoal culpando-se pelo que poderia fazer e não fez. Olhe a realidade ao seu redor, estude o contexto atual e prepare-se. A pós modernidade é caracterizada pela velocidade das informações, das mudanças e da capacidade de lidar com as contingências.

terça-feira, 24 de março de 2009

A INSUSTENTÁVEL ESTABILIDADE.






José Fabiano Ferraz


O mundo moderno caracterizou-se pelas mudanças que colocaram o ser humano como o centro e princípio dos valores morais e políticos. A modernidade buscou através da razão e da racionalidade libertar as pessoas e torná-las felizes. A razão moderna exerceu uma crítica importante nos sistemas produtivos, na visão mecanicista, autoritária e principalmente nos modelos administrativos empresarias de liderança. A ciência moderna com seu espírito crítico destruiu o autoritarismo e afirmou sua crença no progresso, na ciência, na técnica e na produção. Produzir dias melhores guiados por um ideal de felicidade do consumo, os produtos tornam-se cada vez mais acessíveis às classes que antes apenas podiam olhar nas vitrines. A modernidade sem dúvida oferece ao indivíduo a possibilidade de idealizar um mundo melhor, mais humano, mais feliz e livre das opressões, dos idealismos totalitários que proclamavam a liberdade através do controle. A modernidade trouxe a expansão dos negócios, visando à melhoria das condições de vida das pessoas. Os grandes centros urbanos, com promessas de uma vida farta e melhor. A estabilidade oferecida pelo trabalho nas indústrias, em troca da instabilidade do trabalho rural onde ficavam sujeitos as instabilidades do tempo. Foram períodos onde conseguir um bom emprego trazia a realização para vida. A pessoa podia confiar que aposentaria naquela empresa com um salário que lhe garantia um final de vida tranqüilo.
Um grande ícone da crítica ao início da modernidade é o filme de Charles Chaplin: “Tempos Modernos”. Neste filme Chaplin mostra a vida urbana nos Estados Unidos nos anos 30, após a crise de 1929, quando a depressão atingiu toda a sociedade norte americana, levando grande parte da população ao desemprego e a fome. É uma crítica a modernidade e ao capitalismo representado pelo modelo de industrialização. A crise de 1929 reduziu a produção industrial dos Estados Unidos pela metade, gerou a falência de quase 130 mil estabelecimentos e 10 mil bancos. Mercadorias por falta de compradores eram destruídas, enquanto milhares de pessoas passavam fome. Em 1933 o país tinha 17 milhões de desempregados. Nestes primeiros anos da década de 30 a crise se refletiu por todo mundo capitalista. Em 1932 foi eleito pelo partido Democrático o presidente Franklin Roosevelt, um hábil e flexível político que anunciou um novo curso na administração do país, o chamado New Deal. A prioridade do plano era recuperar a economia abalada pela crise combatendo seu principal problema social: o desemprego. O New Deal juntamente com programas de ajuda social realizados por todos os estados americanos ajudou a minimizar os efeitos da depressão a partir de 1933. A maioria dos países atingidos pela Grande Depressão passou a recuperar-se economicamente a partir de então. Aqui na América do Sul, especificamente no Brasil e Argentina, países pouco industrializados na época foram acelerado o processo de industrialização. O maior abalo que houve foi os grandes produtores de café não conseguirem vender para outros países.
Em pleno século XXI, vivemos uma mudança na visão do mundo, das pessoas e das relações. Vivemos a pós modernidade que esta fundamentada na realidade da vida. Não existe nada fora da realidade da vida, o mundo ideal é desconstruído, pois é visto como uma fuga da realidade. A pós modernidade vê a idéia do mundo ideal, inventado pela modernidade, como a maldição que pesa sobre a humanidade. Inventar um mundo ideal é tirar o valor da realidade. O que podemos sentir em nossa vida cotidiana com essa mudança é, que os valores morais, políticos, sociais estão atrelados as poder econômico. O ideal é negado em função do real. E o real é sustentado por bases econômicas. No mundo pós moderno, não se deve buscar entender a relação ou a lógica das coisas e dos acontecimentos. Se hoje vivemos uma crise mundial, semelhante, mas diferente de 1929, devemos entender que o mundo pós moderno é o mundo das contradições, das diferenças e do supremo valor da realidade enquanto bem maior que possuímos. O emprego fixo, a estabilidade, a ordem e o sentido são formas desatualizadas para este momento da humanidade. A pessoa deve se preparar a cada dia, a cada momento para lidar com a realidade aqui e agora. A pós modernidade é caracterizada pela velocidade das informações, das mudanças e da capacidade de lidar com as contingências. Planejar a vida pessoal de maneira formal, usando estratégias peculiares não é um luxo, mas uma ferramenta de sobrevivência. Melhorar as relações interpessoais deixou de ser um requisito de perfumaria e tornou-se gênero de primeira necessidade. Investir em você como pessoa, e não tão somente como profissional, constitui a máxima deste mundo pós moderno. As empresas, por sua vez, que utilizam a intuição e o bom senso em sua gestão de pessoas não irão sobreviver. Hoje para avançar precisamos da contestação que o diálogo proporciona, para produzir idéias e inovar sempre. Não se trata de apenas rejeitar e apontar as falhas e os problemas, mas, sobretudo de criar e inventar as soluções. E isto somente acontece através das pessoas. O crescimento verdadeiro das pessoas não se constrói apenas no combate ao erro, mas na luta contra as tradições. E hoje o conhecimento é o bem mais precioso tanto das pessoas quanto das empresas.
Por fim, vamos entender que a estabilidade, seja no que for hoje é insustentável. O mundo pós moderno é o mundo do preparo técnico e pessoal. Isso vale tanto para as pessoas como para as empresas. As empresas precisam investir nas pessoas, as pessoas precisam investir em seu crescimento e desenvolvimento emocional. Hoje o mundo apresenta muito mais possibilidades do que antes. Perder o emprego na era da modernidade era a falência de um profissional. Hoje faz parte da contingência, da realidade dessa pós modernidade. Pense diferente, crie, inove, prepare-se para a instabilidade. Recentemente tive uma amiga que perdeu o emprego. Ela mora no Rio de Janeiro. Ela fazia biquínis nas horas vagas e vendia para loja de sua tia em Cabo Frio (Litoral da Região dos Lagos). Foi então que começou a produzir mais biquínis, investiu no negócio, montou um site e hoje sua fábrica produz biquínis para o exterior. Hoje as possibilidades de sobrevivência econômica são maiores e melhores. Invista em você.



terça-feira, 3 de março de 2009

CONVIVENDO COM O CAOS



José Fabianno Ferraz


A vida em seu processo natural busca estabelecer uma ordem. É assim em nosso código genético e no equilíbrio da natureza. Existe um impulso, uma configuração básica, um comando universal que organiza e busca o equilíbrio. Esse sentido de ordem é um princípio organizador que percebemos em todo organismo vivo. Nosso comportamento, nossas sensações e nossos sentimentos, por exemplo, são padrões organizados de movimento, o desenho anatômico de nossos estados emocionais. Isso ocorre para que haja estabilidade e a garantia da sobrevivência. A organização do padrão dá sentido e significado para nossos comportamentos, sentimentos, sensações, etc.
Mas nós não somos uma ilha, vivemos em relação constante com as pessoas, as coisas e os lugares. O “outro” nos desestabiliza, nos tira dessa organização, que garante a estabilidade, e produz uma alteração, uma turbulência no padrão de comportamento. Podemos entender este “outro” como tudo que esta fora do “eu”, pode ser uma pessoa, a relação com uma máquina, por exemplo, um computador, um carro; pode ser uma equipe de trabalho, uma família ou até mesmo um espaço físico, uma empresa, ou um clube. Quando nos encontramos com este “outro”, nossa forma passa, necessariamente, por transformações. A esse encontro que nos desestabiliza podemos chamar de caos. O caos ocorre na relação do “eu” com o outro. Nesta relação nossa identidade, a unidade provisória em que nos reconhecemos, é ameaçada. Quando isso acontece à pessoa passa por uma série de reações psicológicas, aborrecimentos, tristezas, medo, raiva, insegurança e desamparo dentre outras. Vivemos o caos na ordem natural de nosso organismo.
A maturidade psicológica, o desenvolvimento emocional ou como se diz atualmente a inteligência emocional irá depender de como suportamos o caos. Se a pessoa não conseguir lidar com a violência e o perigo, da mudança e do desconhecido, que acompanha o caos irá se manter cristalizada nos padrões. Vemos isso quando a pessoa tem dificuldade de mudar. Em processo psicoterapêutico acontece, muitas vezes, da pessoa possuir auto conhecimento suficiente para iniciar algumas transformações na vida, mas ela não consegue viver o caos e se mantém agarrada ao padrão. Pode então a doença surgir como possibilidade de mudança. Vou explicar. Algumas pessoas me dizem: ainda bem que tive esse problema na garganta, pois só assim consegui parar de fumar. Outros agradecem ao problema no estômago pois são forçados a modificar seus hábitos alimentares.
A vida saudável tem por princípio a harmonia e hierarquia dos desejos e das paixões. A pessoa em seu desenvolvimento natural não precisa da doença para impor limites, acorrentar seus desejos e sujeitar suas paixões. A vida boa é aquela que harmoniza os desejos. Pense nisso antes de viver intensidades que te arrancam da realidade do próprio corpo. O importante para nós vivermos numa geração que, cada vez mais, aumenta sua expectativa de vida é nos tornarmos senhor de nosso caos interior. Não se trata, muito menos, de escravizar a vida sensível, o prazer e o desejo à razão autoritária de preceitos e formas rígidas de conduta. É preciso exercer a prática do pensamento do corpo como um todo. Isto significa praticar o pensamento por sensação e afeto, e não apenas uma atividade pura e simplesmente racional.
Uma coisa você pode guardar para sua vida. Se você quiser ser bem sucedido, e não confundam isso com sucesso financeiro ou de que natureza for, ou seja não confundam ser bem sucedido com sucesso. Pois bem se você quiser ser bem sucedido aprenda o quanto antes a expressar os seus desejos e suas paixões, de tal modo que elas deixem de ser um problema para sua vida. Conviver com o caos é hierarquizar a força de nossos desejos e de nossas paixões.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A CONSCIÊNCIA DA ESCOLHA.





José Fabiano Ferraz


Cada vez me convenço mais de que para vivermos em uma família, uma equipe de trabalho, uma sociedade e um mundo melhor a principal tarefa que temos é analisar a nós mesmos. A grande responsabilidade que temos na vida é de assumir nossas escolhas, e principalmente as conseqüências das escolhas que fazemos.
Mas convenhamos que ter consciência de nossas escolhas na vida é algo complexo. Muitas vezes não sabemos muito bem porque escolhemos determinada coisa, ou tomamos determinada atitude. Lembro-me de um adolescente que atendi e de sua colocação original: eu pareço um avião supersônico, a ação vai à frente e lá atrás vem o pensamento. O caso desse adolescente é um exemplo clássico de impulsividade. Mas na grande maioria das vezes as pessoas sentem dificuldade de ter consciência das escolhas que estão fazendo, mesmo que não sejam impulsivas, mesmo quando refletidas.
Outra complexidade de nossas escolhas é ficarmos mais atentos as propriedades de qualidade e defeitos, de certo e errado, de bom e mau. Se a pessoa conseguir entender que ela é sempre, e preste atenção que é sempre mesmo, uma possibilidade, uma potencialidade de realização de si mesma, ela entenderá que o que precisa fazer é descobrir as escolhas que estão presentes no seu modo, na sua forma de ser e de viver a vida. A vida que se vive é sempre própria daquele de quem a vive. Mesmo que a pessoa viva preocupada com a vida das outras pessoas, parentes, amigos, etc. Mesmo que suas escolhas sejam influenciadas pelo reconhecimento e aceitação das pessoas. A configuração básica da vida, suas possibilidades e potencialidades são a expressão do que ela realiza no mundo. Por esse motivo a importância de pronunciar sempre o pronome pessoal “eu”, pois a vida de que falo é sempre minha.
Portanto a consciência que posso ter do mundo, das pessoas e no caso aqui em questão das escolhas é sempre minha. Segundo a influência que recebo e que recebi no meu processo de viver. Parece confuso, mas o que quero dizer é que a minha presença é afetada pelo que fui e sou como também, pelo que quero ser, por minhas lembranças, meus desejos, pelos encontros tudo ao mesmo tempo aqui e agora. Mas não preciso retornar ao passado para resolver o que ficou, preciso lidar com a presença desse passado aqui e agora em minha vida. Santo Agostinho em suas Confissões pergunta: “O que há de mais próximo de mim do que eu mesmo?” Mas eu mesmo sou uma terra de dificuldades e desentendimentos.
Por fim é preciso pensar e entender a consciência e as escolhas como um processo seletivo, mais do que instrutivo. A instrução e conhecimento das coisas não são garantia de mudança da consciência, muito menos nos dá segurança de nossas escolhas. Não trocamos, nem nos desfazemos dos pensamentos e dos sentimentos, mas selecionamos aqueles que serão fortalecidos e praticados em nossa existência. Vou pegar um exemplo prático que vivencio no trabalho com compulsividade. O comportamento compulsivo de beber ou usar droga, por exemplo, por mais conhecimento que a pessoa tenha sobre o processo da compulsividade as recaídas acontecem. Enquanto a pessoa quiser eliminar a compulsividade de sua vida, terá dificuldades de recuperar-se da doença. Não se trata, tão pouco, de substituir um comportamento compulsivo por outro. O processo de recuperação da compulsividade acontece à medida que a pessoa vai construindo novas formas e possibilidades de vida. Vai aprendendo a selecionar seus amigos, os locais, as atividades e com isso enfraquecendo os padrões da compulsividade. Mas como todo compulsivo sabe, e principalmente o dependente químico, sua recuperação não se dá por uma alteração no seu desejo, na sua vontade, pois o desejo compulsivo permanece e a vontade também. Mas, e principalmente, sua recuperação acontece através de processos seletivos que priorizam suas escolhas. De uma maneira bem simples de entender, é um processo no qual o compulsivo vai progressivamente criando trilhas e caminhos paralelos, até que haja diversas trilhas e caminhos dos quais ele possa selecionar, e não tão somente o caminho da compulsividade.
Assim acontece também com o processo de organizar a nossa vida. Quanto mais formas possuem, mais oportunidades de escolhas a pessoa terá. Porém se fica limitada a formas padronizadas e binárias de sim não, certo errado, bom e mau, estará limitando as escolhas em sua vida. Possuímos uma capacidade infinita de organizar redes e conexões.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A VIDA COM “V” MAIÚSCULO.




José Fabiano Ferraz




O coração esta batendo, a pulsação expande e contrai e o corpo sensível se afeta com os encontros e desencontros. Um dia mais feliz outro dia menos feliz, em um momento irritado, em outro momento menos irritado. Se hoje me sinto bem, amanhã não sei como me sentirei e se hoje estou, amanhã não sei se estarei. O corpo vive, pulsa, grita e se cala, ama e odeia às vezes a mesma pessoa. Pode não fazer sentido, mas quem falou que tem que ter sentido. O corpo, este corpo que vivemos, é a expressão concreta de tudo que sentimos. Como sentimos o corpo, sentimos a vida e se não sentimos o corpo não sentimos a vida. A vida esta mistura ás vezes insensata e imanente de intensidades que nos atravessam, de afetos que alteram nossa percepção da própria Vida. Formamos nosso corpo pela maneira como vivemos. A Vida que nos afeta tem qualidades de excitação no corpo, um dia mais duro, em outro mais suave, às vezes delicado e frágil e às vezes resistente e forte.
A vida harmoniosa, justa e boa com as coisas em ordem, e geralmente dentro de nossa ordem, é uma ilusão, uma fantasia que inventamos para dar conta da imensa contradição que atormenta nossa mente. A vida é um caos, como dizia Nietzsche: “o mundo é um monstro de forças, sem começo nem fim, uma soma fixa de forças, dura como o bronze, um mar de forças tempestuosas, um fluxo perpétuo”. A vida não é passível de ser entendida em leis universais e fixas, mas sim de ser vivida, e por mais que isso nos assuste viveremos melhores se cada um de nós vivermos a nossa vida, e deixarmos que o outro viva a sua vida. Isso parece simples, mas não é. Pensem os pais, os apaixonados como podem viver e deixar viver, como podem amar sem a possessão que busca a garantia. O outro é diferente, pensa e vive diferente, mas queremos e precisamos estar juntos, precisamos ser um mas ser dois ao mesmo tempo.
Alguns vivem uma vida sem limites, tem dificuldades de dar contorno para suas coisas. Trabalham demais, amam demais, fazem sexo demais, falam demais. Vivem uma hiperatividade como se não suportassem a excitação natural da vida em seus corpos. Outros por sua vez têm medo de sentirem-se vivos, neutralizam e anestesiam o corpo, caem em depressão e escondem-se da vida, das pessoas e de si mesma. Características que podem variar da super produtividade ao estado de abatimento e desânimo, na mesma pessoa e no mesmo dia.
A vida, este imenso fluxo de energia, não cabe dentro de leis e verdades absolutas, não está subordinada a ordem de juízos, pois nenhum juízo sobre a vida alcança o sentido da vida, a não ser como uma ilusão. Ilusão daquele que expressa o juízo de valor, pois fala de si mesmo, e na verdade de seus sintomas. Voltando a Nietzsche, ele afirma em o Crepúsculo dos ídolos: “o valor da vida não pode ser avaliado”. Isto por que nós que vivemos somos parte da vida não podemos sair dela para avaliá-la, nem por quem esta morto por motivos óbvios.
Na experiência de consultório e principalmente de vida, da minha vida, vejo que a doença é justamente a negação desse caos e a busca da ordem, da certeza e da segurança. A doença é um problema de adaptação, uma dificuldade de viver a vida com o que ela apresenta. A doença expõe a desordem que existe na incoerência escondida dentro de cada um de nós. A doença é a rejeição da vida e a tentativa de criar um mundo à parte, o meu mundo, que funcione de acordo com as minhas leis, minhas verdades e meus juízos do que é certo e errado. O resultado disso é que a vida presente nas entranhas, em nossas entranhas, sucumbe à doença.
Acredito na compreensão e a experiência da vida como processo, que em nossa jornada vamos abrindo portas e a visão de nosso entendimento sobre nossa vida. Somos um processo biológico capaz de respostas altamente especializadas. Estamos continuamente em movimento, somos movimento que organiza e desoirganiza formas durante toda a vida. Por isso acredito mais na pergunta “como” do que “por que”.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A VIRADA



José Fabiano Ferraz
Os momentos de virada em nossa vida, geralmente são focos de novas direções que revelam o desejo ou a decisão, de que um modo de viver acabou e um novo modo esta surgindo ou precisa emergir em nossa vida. A virada ocorre quando decidimos pelo novo, pela mudança quando nos cansamos do velho, do desgastado e repetitivo em nossa vida. Existem diferentes justificativas que motivam a virada em nossa vida. Podem ser motivos de desconforto, dor, sofrimento emocional, como também podem ser motivos de crescimento, descobertas e busca de desafios na vida. Mas de uma maneira ou de outra são momentos que nos assustam. O novo gera medo é um mecanismo psicológico de defesa. Nosso organismo possui um recurso biológico de busca da estabilidade e do equilíbrio que chamamos de homeostase. Apesar do permanente impulso para o crescimento e a mudança, buscamos estabilidade através de comportamentos repetitivos para nos sentirmos mais seguros. É assim que construímos nossa identidade, nosso caráter, nosso jeitão que apresentamos ao mundo.
Os momentos de virada são momentos decisivos, que envolvem um conteúdo emocional de intensidades altas. Quando uma relação afetiva esta em crise e descobrimos que não tem mais como continuar. A pessoa descobre que esta apegada muito mais a rituais, do que ao sentimento e que esta dependente dos padrões pré-estabelecidos da relação. Tudo, na relação afetiva, é previsível e bem ou mal, dessa maneira, a vida continua e a sobrevivência psicológica está garantida. Para algumas pessoas são momentos onde elas descobrem que sua forma de lidar com as emoções não esta mais funcionando. É um modo explosivo que esta a ponto de ocasionar um infarto, ou uma melancolia que afunda a pessoa numa depressão, quem sabe a dependência emocional que gera o comportamento de coitadinha. Em fim a pessoa descobre que acabou e que não dá mais para viver assim. Mas os momentos de virada também ocorrem por busca de crescimento. Quando a pessoa esta querendo superar uma dificuldade de falar em público para alçar vôos maiores no trabalho. Um desafio relacionado a questões pessoais de timidez, do qual a pessoa esta querendo mudar sua atitude perante a vida. Às vezes melhores oportunidades que envolvem mudança de emprego, de cidade, de estado ou até mesmo de país. Mas seja qual for a justificativa para a virada o que precisa acontecer é a disponibilidade para mudar sua identidade, ou melhor, para perder sua identidade. Os momentos de virada obrigatoriamente te colocarão frente a frente com o desconhecido.
A grande armadilha que muitas vezes impede e sabota a virada é quando, de maneira automática, buscamos o novo com os padrões antigos. Ensaiamos a virada em nossa vida, mas não largarmos os velhos padrões que nos garantem a sobrevivência. Quando a pessoa tem dificuldade de encarar o novo de peito aberto, sofrerá com a doença e provavelmente retrocederá em sua tentativa de mudança. Quando isso acontece é porque involuntariamente tomamos a atitude de não mudar as coisas. Mas continuamos tentando e ficamos frustrados, pois a virada não acontece. E não acontecerá mesmo, pois não podemos viver o novo com os padrões antigos. Para viver o novo precisamos dar fim ao velho, e deixar que as oportunidades que a vida apresenta de experimentar o novo sejam experenciadas. A pessoa que busca a virada, mas sem largar mão da sua identidade e de sua forma habitual irá sofrer com um alto nível de stress. Isto porque estará convivendo com um conflito interno de forças opostas em seu corpo.
Cada um vive suas viradas de uma maneira singular. Crescimento e mudança fazem parte do processo de amadurecimento na vida de todos nós. As viradas são as passagens, muitas vezes estreitas, de nossa autotransformação e precisamos ter consciência de que não existem viradas sem desorganização, sem estranhamento e o natural sentimento de medo. Não há viradas sem a sensação de finalizações e perdas em nossa vida.