segunda-feira, 9 de junho de 2008

A GREVE DOS MOTORISTAS DE ÔNIBUS


José Fabiano Ferraz – Psicólogo – (12) 39136519 -



Acordamos e iniciamos a rotina diária. Minha esposa toma o seu café da manhã e vai para o trabalho, eu tomo meu banho, faço a barba e aguardo a senhora que fica com minha filha de seis anos até a hora do almoço. Assistindo o jornal da vanguarda, vejo a notícia da greve dos motoristas de ônibus em São José dos Campos. Na mesma hora ligo para nossa colaboradora e vejo que sua situação não é diferente das inúmeras pessoas que moram em bairro afastado e dependem de ônibus. Neste momento dispara o alarme, tenho uma agenda com compromissos, atendimentos, reuniões e como fazer com minha filha de seis anos até a hora do almoço. É uma reação típica de stress que vivenciamos com o atravessamento de questões independentes à nossa vontade. Uma agitação interna se estabelece no corpo, uma impaciência e irritação surgem naturalmente, conseqüência do transtorno da mudança da rotina diária.

O que podemos fazer quando surgem imprevistos que alteram nossos padrões, nossos hábitos? Temos um aparelho cerebral preparado para estas situações de emergência, temos um processo psíquico que nos permite ser criativos e inovadores, capazes de organizar soluções originais e adaptação aos nossos problemas cotidianos. Podemos, frente à situação de stress, construir atitudes adequadas para enfrentar o problema. Precisamos desorganizar a forma de alarme que se estabelece em nosso corpo, alterando nosso ritmo interno, nossa respiração e deixando-nos acelerados. A primeira atitude a tomar é muito simples, mas ao mesmo tempo difícil, reorganizar a respiração. Pois é neste momento em que o cérebro está disparando funções de defesa, acelerando e aumentando a pressão, enrijecendo e potencializando o corpo para ação, que temos dificuldade em nos concentrar na respiração. Veja bem, o corpo é preparado, em momentos de stress, para lutar ou para fugir. Porém nossa atitude deve envolver planejamento e estratégia, pois nossos problemas urbanos não podem ser resolvidos com a potência muscular. A sensação de irritação e impaciência que sentimos, como se algo tivesse tomado conta de nosso corpo, na verdade somos nós mesmos que produzimos. Por isso concentro na respiração, respiro no abdômen, de forma suave sem hiper ventilar, também presto atenção em minhas pernas e deixo o peso do corpo vir para os pés, gerando sustentação em meu corpo frente ao problema que tenho que resolver. É comum em momentos de stress a musculatura ficar rígida e pronta para o ataque, o corpo puxa para cima por isso a tensão nos ombros e no tórax, aprender a deixar o peso do corpo vir para as pernas é uma forma de desorganizar essa prontidão para o ataque.

Com o corpo desarmado do alarme posso pensar com tranqüilidade, converso com a minha filha e explico o que está acontecendo, ligo para minha esposa para organizarmos uma estratégia contingencial e lidar com a situação. A greve dos motoristas de ônibus segue, por mais um dia, mas agora já estamos preparados para enfrentá-la. É assim em nosso cotidiano, problemas surgem independentes de nossa vontade e fazem parte da dinâmica de nossa vida urbana. É preciso aprender a lidar com o stress, de forma eficaz nas suas dimensões: emocional - no caso da greve a irritação e impaciência que geraram em mim-, na dimensão de vínculos e relações interpessoais - ficar nervoso e mal humorado, principalmente com minha filha e minha esposa -, e nos aspectos políticos – compreender que existe uma ordem política, sindicato, governo, capital versus trabalho da qual faço parte, direta ou indiretamente -.

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