quarta-feira, 18 de junho de 2008

EU DIGO NÃO?




José Fabiano Ferraz - Psicólogo - 12 - 39136519
Para algumas pessoas dizer “não” é uma tarefa, difícil e angustiante. Sofrem e muitas vezes sentem-se usadas, mas não conseguem fazer nada a respeito, assistem passivamente o desrespeito à sua vontade. Dizer “não” é a expressão de um protesto, como pode ao mesmo tempo ser uma auto-afirmação. Quando criança aprendemos inicialmente a dizer “não” com o corpo, enrijecemos e nos apertamos assumimos uma postura, um padrão de expressão que pode ser o choro, o grito e a teimosia.
Mas por que no decorrer de nossas vidas, para algumas pessoas, dizer “não” se torna algo difícil e angustiante? Muita gente tem problema em dizer “não”, em fazer valer sua posição. E quando dizem “não”, o fazem de uma maneira tão rígida e dura que depois se sente culpada e incapaz de restabelecer a relação do “sim”. Isto acontece porque dizer “não” gera naturalmente, a dor e o risco da distância, traz a incerteza e o aberto de uma relação que se desorganiza, por uns momentos, para reconstruir formas de respeito à individualidade e ao espaço de cada pessoa. Dizer “não” é uma disponibilidade para correr o risco da separação e da solidão. Se você não disser “não”, dificilmente aprenderá a se afirmar, se você não exercer a habilidade de formar e mantiver limites, poderá viver repetidas vezes o papel de vítima. Sentirá que as pessoas abusam de você, que usam você e terá a sensação de que não é reconhecida nem valorizada. Pessoas com dificuldade em dizer “não”, podem sentir-se invadidas, rejeitadas e com muita restrição em ser elas mesmas.
O que é pior nisso tudo é o preço que se paga. Algumas pessoas dizem “não” com o corpo, de forma involuntária, mas não conseguem criar uma forma de expressão que ganhe o mundo. Aparecem as dores pelo corpo, principalmente nas regiões lombar e dos ombros, que denunciam a insatisfação com a vida que estamos levando e o peso que estamos carregando. Outras pessoas dizem “não” com sua irritação, sua impaciência e isolamento, mas não aprendem a lutar nem fugir das situações que lhe desagradam ou agridem. Dizer “não” é uma forma de se proteger e se não aprendemos a fazer isso, sabe o que acontece? Não vamos aprender a lidar com a excitação, que acompanha a autonomia e independência. É isso mesmo, organizar formas autônomas e independentes, despertam, necessariamente, processos excitatórios em nosso corpo que abrem espaço para o novo.
Pessoas com dificuldade em dizer “não”, precisam aprender a confiar, se soltar e descontrair. Podemos aprender a ser diferente, é uma questão de correr o risco da experiência. Pode ser que nas primeiras tentativas de dizer “não”, nossa voz esteja insegura e quase não saia, pode ser que digamos “não” e logo em seguida, inundados de um sentimento de culpa e insegurança troquemos o “não” pelo “sim”. Dizer “não” primeiro cria uma distância, um afastamento devido ao limite que foi colocado; mas também permite a reorganização de uma nova ação, um novo você restabelecendo uma relação e uma expressão que permita o “sim”. Uma forma não precisa, nem deve ser congelada e cristalizada. Da mesma maneira que dizer “sim” sempre é um problema, o mesmo vale para o dizer “não” sempre. A pessoa adota uma postura rígida de “sim” ou de “não” que não condiz com a necessidade do processo de viver, que requer um conjunto temporário de decisões pessoais, que podem ser modificadas de acordo com as circunstâncias.
O processo de viver requer que você aprenda a estabelecer limites, depois suavize estes limites e aprenda a negociá-los. Requer também que você aprenda reformar seu comportamento, atualizar suas formas de expressão emocional. O processo de viver possui uma lei universal de expansão e contração. O que isto quer dizer? Que nos expandimos em direção ao mundo e às pessoas, que buscamos a relação e o contato, mas que também nos contraímos, voltamos para nós mesmos e estabelecemos limites de proteção à vida.

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