terça-feira, 3 de março de 2009

CONVIVENDO COM O CAOS



José Fabianno Ferraz


A vida em seu processo natural busca estabelecer uma ordem. É assim em nosso código genético e no equilíbrio da natureza. Existe um impulso, uma configuração básica, um comando universal que organiza e busca o equilíbrio. Esse sentido de ordem é um princípio organizador que percebemos em todo organismo vivo. Nosso comportamento, nossas sensações e nossos sentimentos, por exemplo, são padrões organizados de movimento, o desenho anatômico de nossos estados emocionais. Isso ocorre para que haja estabilidade e a garantia da sobrevivência. A organização do padrão dá sentido e significado para nossos comportamentos, sentimentos, sensações, etc.
Mas nós não somos uma ilha, vivemos em relação constante com as pessoas, as coisas e os lugares. O “outro” nos desestabiliza, nos tira dessa organização, que garante a estabilidade, e produz uma alteração, uma turbulência no padrão de comportamento. Podemos entender este “outro” como tudo que esta fora do “eu”, pode ser uma pessoa, a relação com uma máquina, por exemplo, um computador, um carro; pode ser uma equipe de trabalho, uma família ou até mesmo um espaço físico, uma empresa, ou um clube. Quando nos encontramos com este “outro”, nossa forma passa, necessariamente, por transformações. A esse encontro que nos desestabiliza podemos chamar de caos. O caos ocorre na relação do “eu” com o outro. Nesta relação nossa identidade, a unidade provisória em que nos reconhecemos, é ameaçada. Quando isso acontece à pessoa passa por uma série de reações psicológicas, aborrecimentos, tristezas, medo, raiva, insegurança e desamparo dentre outras. Vivemos o caos na ordem natural de nosso organismo.
A maturidade psicológica, o desenvolvimento emocional ou como se diz atualmente a inteligência emocional irá depender de como suportamos o caos. Se a pessoa não conseguir lidar com a violência e o perigo, da mudança e do desconhecido, que acompanha o caos irá se manter cristalizada nos padrões. Vemos isso quando a pessoa tem dificuldade de mudar. Em processo psicoterapêutico acontece, muitas vezes, da pessoa possuir auto conhecimento suficiente para iniciar algumas transformações na vida, mas ela não consegue viver o caos e se mantém agarrada ao padrão. Pode então a doença surgir como possibilidade de mudança. Vou explicar. Algumas pessoas me dizem: ainda bem que tive esse problema na garganta, pois só assim consegui parar de fumar. Outros agradecem ao problema no estômago pois são forçados a modificar seus hábitos alimentares.
A vida saudável tem por princípio a harmonia e hierarquia dos desejos e das paixões. A pessoa em seu desenvolvimento natural não precisa da doença para impor limites, acorrentar seus desejos e sujeitar suas paixões. A vida boa é aquela que harmoniza os desejos. Pense nisso antes de viver intensidades que te arrancam da realidade do próprio corpo. O importante para nós vivermos numa geração que, cada vez mais, aumenta sua expectativa de vida é nos tornarmos senhor de nosso caos interior. Não se trata, muito menos, de escravizar a vida sensível, o prazer e o desejo à razão autoritária de preceitos e formas rígidas de conduta. É preciso exercer a prática do pensamento do corpo como um todo. Isto significa praticar o pensamento por sensação e afeto, e não apenas uma atividade pura e simplesmente racional.
Uma coisa você pode guardar para sua vida. Se você quiser ser bem sucedido, e não confundam isso com sucesso financeiro ou de que natureza for, ou seja não confundam ser bem sucedido com sucesso. Pois bem se você quiser ser bem sucedido aprenda o quanto antes a expressar os seus desejos e suas paixões, de tal modo que elas deixem de ser um problema para sua vida. Conviver com o caos é hierarquizar a força de nossos desejos e de nossas paixões.

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