terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A VIDA COM “V” MAIÚSCULO.




José Fabiano Ferraz




O coração esta batendo, a pulsação expande e contrai e o corpo sensível se afeta com os encontros e desencontros. Um dia mais feliz outro dia menos feliz, em um momento irritado, em outro momento menos irritado. Se hoje me sinto bem, amanhã não sei como me sentirei e se hoje estou, amanhã não sei se estarei. O corpo vive, pulsa, grita e se cala, ama e odeia às vezes a mesma pessoa. Pode não fazer sentido, mas quem falou que tem que ter sentido. O corpo, este corpo que vivemos, é a expressão concreta de tudo que sentimos. Como sentimos o corpo, sentimos a vida e se não sentimos o corpo não sentimos a vida. A vida esta mistura ás vezes insensata e imanente de intensidades que nos atravessam, de afetos que alteram nossa percepção da própria Vida. Formamos nosso corpo pela maneira como vivemos. A Vida que nos afeta tem qualidades de excitação no corpo, um dia mais duro, em outro mais suave, às vezes delicado e frágil e às vezes resistente e forte.
A vida harmoniosa, justa e boa com as coisas em ordem, e geralmente dentro de nossa ordem, é uma ilusão, uma fantasia que inventamos para dar conta da imensa contradição que atormenta nossa mente. A vida é um caos, como dizia Nietzsche: “o mundo é um monstro de forças, sem começo nem fim, uma soma fixa de forças, dura como o bronze, um mar de forças tempestuosas, um fluxo perpétuo”. A vida não é passível de ser entendida em leis universais e fixas, mas sim de ser vivida, e por mais que isso nos assuste viveremos melhores se cada um de nós vivermos a nossa vida, e deixarmos que o outro viva a sua vida. Isso parece simples, mas não é. Pensem os pais, os apaixonados como podem viver e deixar viver, como podem amar sem a possessão que busca a garantia. O outro é diferente, pensa e vive diferente, mas queremos e precisamos estar juntos, precisamos ser um mas ser dois ao mesmo tempo.
Alguns vivem uma vida sem limites, tem dificuldades de dar contorno para suas coisas. Trabalham demais, amam demais, fazem sexo demais, falam demais. Vivem uma hiperatividade como se não suportassem a excitação natural da vida em seus corpos. Outros por sua vez têm medo de sentirem-se vivos, neutralizam e anestesiam o corpo, caem em depressão e escondem-se da vida, das pessoas e de si mesma. Características que podem variar da super produtividade ao estado de abatimento e desânimo, na mesma pessoa e no mesmo dia.
A vida, este imenso fluxo de energia, não cabe dentro de leis e verdades absolutas, não está subordinada a ordem de juízos, pois nenhum juízo sobre a vida alcança o sentido da vida, a não ser como uma ilusão. Ilusão daquele que expressa o juízo de valor, pois fala de si mesmo, e na verdade de seus sintomas. Voltando a Nietzsche, ele afirma em o Crepúsculo dos ídolos: “o valor da vida não pode ser avaliado”. Isto por que nós que vivemos somos parte da vida não podemos sair dela para avaliá-la, nem por quem esta morto por motivos óbvios.
Na experiência de consultório e principalmente de vida, da minha vida, vejo que a doença é justamente a negação desse caos e a busca da ordem, da certeza e da segurança. A doença é um problema de adaptação, uma dificuldade de viver a vida com o que ela apresenta. A doença expõe a desordem que existe na incoerência escondida dentro de cada um de nós. A doença é a rejeição da vida e a tentativa de criar um mundo à parte, o meu mundo, que funcione de acordo com as minhas leis, minhas verdades e meus juízos do que é certo e errado. O resultado disso é que a vida presente nas entranhas, em nossas entranhas, sucumbe à doença.
Acredito na compreensão e a experiência da vida como processo, que em nossa jornada vamos abrindo portas e a visão de nosso entendimento sobre nossa vida. Somos um processo biológico capaz de respostas altamente especializadas. Estamos continuamente em movimento, somos movimento que organiza e desoirganiza formas durante toda a vida. Por isso acredito mais na pergunta “como” do que “por que”.

Um comentário:

Pr.Olivar disse...

Estimado amigo e irmão de jornada... Concordo plenamente com você. Essa sede de controle que temos nada mais é do que a dura realidade da falta de controle que temos de tudo. O equilíbrio é o nosso desejo maior porque o desequilíbrio nos assusta. Viver com o insegurança do futuro poder ser muito assustador, isso para quem não tem qualquer segurança no presente. Quem vive assim, focado no presente, um dia de cada vez, um minuto de cada vez, creio eu, conseguirá encotrar a resposta para o "como" e não se deixará perturbar como "porque".
Um abraço, meu querido.
Olivar