terça-feira, 27 de maio de 2008

O ESTRESSE NOSSO DE CADA DIA


Podemos entender que o desafio deste século, ou dessa década está em aprender a administrar o “Estresse Nosso de Cada Dia”, e aproveitar o máximo a energia e as conseqüências positivas do estresse. São vários os fatores e agentes, externos e internos de estresse em nosso dia a dia: aglomeração, ruído, poluição, mudança constante no estilo de vida, alterações significativas nos papéis sociais e aumento da responsabilidade por tomada de decisões; como também a crescente exigência no mundo moderno, de cada vez mais as pessoas aprenderem a lidar com as emoções e sentimentos.
O estresse é um reflexo de defesa, de adaptação a situações estranhas, vivenciado no corpo como uma alteração fisiológica. É um mecanismo que dispara automaticamente, preparando o corpo para o ataque ou a fuga. Podemos entender o reflexo do estresse como uma excitação energética, química, onde fluxos de energia percorrem o corpo. Nossos estados emocionais representam diferentes formas de excitação, com intensidades que podem variar da rigidez ao colapso no corpo.
O modo como deixamos que a excitação se expanda e cresça, ou como abafamos e controlamos revela nossa forma de administrar o estresse nosso de cada dia. Se nos endurecemos e nos petrificamos para evitar que a excitação ultrapasse nossos limites; estamos evitando o mundo e as pessoas, estamos organizando um corpo com contrações e contenções musculares. De outro modo se deixamos a excitação vazar sem limites, sem controle, explodimos impulsivamente, alternamos estados emocionais de euforia e depressão; as pessoas com limites fracos para excitação, sucumbem, desmoronam emocionalmente.
O que as pessoas precisam é aprender a construir limites adequados para as emoções, para os estados de excitação. Administrar o estresse organizando os sentimentos através da regulação interna. Para isso é necessário aprender a criar um diálogo entre as formas corporais que se organizam da rigidez ao colapso, da euforia a depressão. Esse diálogo deve acontecer no cotidiano, na rotina do dia a dia, no trabalho, no trânsito, na família, na vida vivida. Não dá para pedir que a vida para por um instante, para que a pessoa possa meditar e depois quando estiver “Zen” resolver o problema. As pessoas precisam de uma ferramenta capaz de ajudá-las a administrar o estresse em tempo real, no momento que ele ocorre, nem antes, nem depois. Não estou, com isso, desconsiderando as práticas de exercícios físicos, meditação e tantas outras técnicas de relaxamento etc. que são muito importantes, para manutenção de uma vida com qualidade. O que estou propondo é um aumento da consciência do próprio corpo, das reações fisiológicas diante dos obstáculos e dificuldades diárias, para aprender a regular os estados corporais em relação a expansão ou contenção da excitação, no momento em que o corpo aciona o reflexo do estresse. Estou falando em regular e não em inibir, conter ou reprimir, regular e deixar a excitação circular para mais ou para menos, de acordo com a situação.
Vamos ver como isso é possível. As situações do nosso cotidiano organizam um campo de excitação, essa é a experiência básica da vida no corpo, um contínuo de correntes excitatórias. Se você prestar atenção sentirá que esse campo excitatório altera, basicamente, a respiração e a musculatura. É preciso estar consciente de sua respiração, para que você possa reorganizá-la. O mesmo se dá com a musculatura, é preciso estar consciente de sua musculatura, para que você possa reorganizá-la. Essa reorganização irá possibilitar a regulação da excitação do estresse. Vamos ver como é a organização do corpo no estresse, como o corpo se organiza para atacar ou fugir.
Todas essas reações que vou descrever ocorrem ao mesmo tempo, de forma inespecífica e são disparadas automaticamente, a partir da avaliação de algo ameaçador ou estranho. Portanto não se trata de eliminar as reações, ou não sentir, mas sim de aprender a manejar , a regular as reações corporais. No reflexo do estresse o peito sobe e paralisa na inspiração, os intestinos se contraem, os sentidos se concentram no objeto e a estrutura do corpo como um todo se retesa. O corpo puxa para cima, para longe da pélvis e do chão, injetando força no peito e na cabeça. Os braços e pernas se contraem para empurrar, bater, ficar parado ou agarrar. O estresse envolve as seguintes alterações:
a) Mudança na musculatura;
b) Mudança no formato do diafragma;
c) Mudança na relação do corpo com a linha gravitacional da terra;
d) Alteração de sentimentos, emoções e pensamentos.
A seqüência do reflexo do susto obedece ao seguinte padrão: um pequeno grau de enrijecimento – “CUIDADO”- um aumento da organização rígida – “PRESTE ATENÇÃO” – o espasmo total –“VÁ EMBORA“-.
Essas formas corporais, com o tempo, convertem-se pela força do hábito e da associação em ações reflexas e são executadas involuntariamente, mesmo quando não tem a menor utilidade. O que acontece com a respiração? A respiração é, quase que, interrompida ou respira-se silenciosamente de maneira curta e superficial.
A consciência corporal é um processo, possui etapas, e precisa ser executado continuamente para que se torne um hábito. Quanto mais você aprender a direcionar a atenção para seu corpo, e não para fora, mais você terá condições de manejar a si mesmo. A seguir vou apresentar sugestões de como, com a prática, você pode aumentar a sua consciência corporal.
PASSO I: Esteja atento a você mesmo na situação presente. Pergunte-se: “o que” estou fazendo com o meu corpo? O que estou fazendo com o meu peito? Com meu abdômen? Com meus braços e pernas? Responder a essas perguntas, lhe dará possibilidade de forma uma imagem de você na situação presente.
PASSO II: Aproveitando a imagem do passo anterior pergunte-se: Como estou fazendo? Como estou pressionando o peito? O abdômen? Como faço para enrijecer os ombros, as costas? Como estou fazendo para inibir a respiração? Você irá descobrir como esta organizando o reflexo do susto. Como esta usando seu corpo para emergência, para o alarme.
PASSO III: O passo I e II darão o mapa do seu padrão de resposta ao estresse. O que você faz e como faz, com seu corpo em situações de estresse. No passo III você irá intensificar o padrão, fazer mais o que você descobriu que esta fazendo. Intensificar o padrão de tensão, peito apertado, abdômen contraído, respiração curta, leve isso ao extremo e então comece a voltar, a afrouxar, relaxar, pouco a pouco, desfazer, desorganizar a rigidez da forma do estresse. Contrair mais, mais, ainda mais, depois soltar um pouco, um pouco mais, ainda mais. Com isso você esta criando um diálogo interno com seu corpo, formas executadas involuntariamente podem ser percebidas e repetidas voluntariamente, você esta criando possibilidades de manejo.
PASSO IV: É o momento pausa, do silêncio interior, onde o diálogo criado a partir do passo III vai acontecer. Nesse estágio podem emergir lembranças, sensações, você pode sentir-se diferente. O passo IV é onde estamos percebendo um modo diferente em nós, uma forma diferente do padrão, mas que não está pronta, que não está acabada.
PASSO V: É o passo da escolha, onde o padrão esta se desintegrando mas ainda não temos um novo padrão estabelecido. É o passo da prática e da experimentação, dos meus músculos, de minha respiração, lembro-me de relaxar o peito, o abdômen, respirar profunda e pausadamente. É o passo da escolha entre o que acabo de aprender, e o padrão conhecido e estabelecido pela força do hábito, por isso mesmo mais seguro e estável. Posso ficar esperando que algo mágico aconteça, posso ficar apenas em um dos passos anteriores, ou posso arriscar formas novas, de acordo com as exigências do momento e do ambiente. O passo V é o passo da prática, onde devo praticar muitas vezes os passos anteriores, para formar uma nova resposta.
A consciência corporal é um processo de educação, onde o que se aprende é dialogar com o próprio corpo, experenciar as intensidades e excitações e principalmente, desorganizar e reorganizar as formas corporais do estresse. É o requisito para uma vida saudável e vibrante para você e as pessoas que circulam em seu universo pessoal. É uma metodologia para ser utilizada no dia a dia, podendo fazer parte das situações cotidianas, uma maneira pragmática de administrar “O ESTRESSE NOSSO DE CADA DIA”.