terça-feira, 4 de novembro de 2008

A ESSÊNCIA DA SAÚDE HUMANA.




José Fabiano Ferraz - Psicólogo - 12 - 39136519



Quando falamos de saúde, nos dias de hoje, logo nos vêem a idéia de qualidade de vida. Devemos pensar qualidade de vida como um conceito ou um estilo de vida? Como conceito corre-se o risco de entrar no terreno da idealização, algo que entendemos, teoricamente, mas não conseguimos aplicar em nossa vida. O que muitas vezes ouço é: “a teoria é uma coisa, mas na prática é outra”. A teoria é uma leitura da prática, quando teoria e prática não coincidem podemos entender que: ou a teoria esta equivocada em sua leitura, ou não conseguimos praticar os conceitos da teoria. A fragmentação entre teoria e prática é um artifício, utilizado para justificar nossa dificuldade em aplicá-la. Qualidade de vida é um conceito sobre um estilo de vida, que apresenta a saúde humana como um processo ligado a existência de cada pessoa.
A enfermidade foi determinada ontologicamente como uma privação da saúde. Neste caso o conceito predominante é o de doença, no qual saúde é ausência de estados negativos e não a presença de estados positivos. Desse modo a doença é vista como uma fatalidade, um infortúnio do destino, uma herança ou até mesmo um carma. Com o desenvolvimento do conceito de qualidade de vida, a enfermidade deixou de ser entendida, simplesmente, como ausência de saúde e passou a ser um modo de existir em que a saúde falta, não está presente no cotidiano da vida de cada pessoa. A pessoa doente, no conceito de qualidade de vida, tem necessidade de saúde, ou seja, carece de saúde. O estar bem, estar saudável, neste modo de ver, não está simplesmente ausente, mas esta perturbada. Isso modifica o entendimento, tanto do conceito de doença como o de saúde. Tira a idéia da doença como fatalidade, e coloca a responsabilidade pela construção de uma vida saudável nas mãos da pessoa. Quando trabalhamos com o conceito de qualidade de vida, entendemos que a manifestação de uma doença são ocorrências que se mostram no organismo, e que, ao se mostrarem são indícios de um disfuncionamento do processo de viver. O aparecimento destas ocorrências revela uma privação da potencialidade da pessoa, a expressão de seu potencial encontra-se velada em sua própria existência. Portanto ao se trabalhar com qualidade de vida, entendemos que a manifestação de uma doença é, na verdade, o indício de algo que não se mostra. O distúrbio, as perturbações do organismo é a forma de anunciar algo que não esta aparente. Embora não seja aparente está presente, existe objetivamente na realidade da pessoa. A manifestação de uma doença deve ser entendida como um processo, que possui uma história, construída no modo de existência da própria pessoa. Aprendido através de associações emocionais e máximas racionais. É quando engolimos o choro, sufocamos a tristeza, impedimos o desejo, sacrificamos o prazer, por razões sociais, culturais e dogmáticas.
Não produzimos qualidade de vida por decreto, normas, regimentos ou qualquer coisa desta natureza, como muitas empresas buscam, de forma bem intencionadas, fazer. Não construímos qualidade de vida a partir da modificação pura e simples do ambiente a nossa volta. Vejo caso de algumas organizações que modificaram seu layout, investiram no ambiente deixando-o mais arejado, limpo. São medidas importantes para reduzir o desconforto e insatisfação, mas que não garantem a mudança pessoal necessária para uma vida com qualidade. Existem pessoas que mudam para o litoral, ou para serra, quando assim podem fazê-lo, na esperança de obterem mais qualidade de vida. Uma medida importante, mas que se não estiver acompanhada de mudança em seu modo de viver não garante, por si só, a qualidade de vida. É preciso apropriar-se de si mesmo, de sua existência, seus padrões de comportamento, principalmente daquilo que não se mostra na aparência, mas que está presente no sentido do que fazemos. Portanto é importante, se apropriar sempre do sentido de nossas atitudes, nosso comportamento, nossos gestos, da forma que nosso corpo se organiza nos encontros com a vida. É a qualidade de minha presença, que constrói a qualidade de minha saúde na vida. Por isso é importante observar a si mesmo, com um refinamento cada vez mais sofisticado, para vivenciarmos o momento. Ansiedade é o medo do que esta por vir, é o medo sem razão no aqui e agora, angústia é o sofrimento pelo que aconteceu ou deixou de acontecer num tempo que já passou. O presente é o meu possível, é onde posso ser e fazer as coisas em minha vida e, a qualidade da minha presença no meu presente revela a essência de minha saúde.

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